No filme, Bela Vingança, a protagonista tenta se vingar da tragédia que se abateu sobre sua melhor amiga, criando armadilhas para homens predadores. Assim, paga com a própria vida o último ato de vingança e de uma justiça que não aconteceu no momento devido.
Nas culturas indígenas do Xingú, índias completamente nuas usam apenas um fio amarrado na cintura e cruzado entre as pernas. O uluri, como é chamado, é uma espécie de cinto de castidade, mas cujo controle é da própria mulher, pois só ela pode retirar o uluri quando quiser manter uma relação sexual. Os homens são proibidos de tocá-lo. No Xingú, entre os chamados povos originários, não há sexo sem consentimento. O que podemos aprender com as sociedades ditas “primitivas”? Regras básicas de convivência e uma ética social em que ninguém tem o direito de violar o corpo de outrem.
A liberdade sexual que as mulheres adquiriram, bem como a liberdade de ir e vir – como ir a um bar ou viajar sozinha - parece que ainda não foi bem compreendida pela outra metade da humanidade. Qual seria o uluri que nós mulheres precisaríamos simbolicamente portar para sinalizar que nosso corpo está disponível sim, mas apenas para o prazer que escolhermos viver e com quem escolhermos viver?
Obviamente, a própria existência do uluri fala de um direito, fala de uma posição na relação entre os gêneros em que, apesar das funções rigidamente definidas segundo o sexo, nas culturas tradicionais (e, por isso mesmo, complementares), ninguém é desqualificado pelo fato de ter nascido mulher. Há um interdito simbólico que protege a #vulnerabilidade feminina contra um assalto sexual.
Fica aqui a pergunta sobre quais são os dispositivos que precisamos ainda criar, como sociedades “civilizadas”, antes e não depois do abuso sexual vir a acontecer, antes e não depois da instauração do trauma e de suas trágicas consequências. Até porque argumentos atenuantes não faltam para banalizar a gravidade dos fatos. Basta acompanhar os protestos contra a expulsão dos estudantes.
Texto: C. Sutter
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