Nessa bem-humorada série espanhola, quatro homens de perfis distintos se deparam com o desmonte das bases que sustentavam seu mundo masculino. A consequente crise de identidade leva a frequentarem um curso de desconstrução do que até então era inquestionável.
Com ideias claramente inspiradas no livro XY de Elisabeth Badinter, a série mostra seus personagens perdidos enfrentando demandas de mulheres decididas que não estão mais dispostas a fazer concessões. Sob uma nova roupagem, a guerra dos sexos ressurge com as mulheres no comando. Entre demandas contraditórias de serem mais “femininos” (sensíveis, empáticos, cuidadores) e continuarem sendo “fortes” (decididos, provedores, viris), só rindo para não chorar diante das situações que hoje homens e mulheres têm de lidar e que são exploradas na série.
Como diz um ditado numa revista feminista: “Homem tem que ser igual a café: bom, forte e quente”. Perfeito. O difícil é juntar esses ingredientes.
Nenhuma mulher quer um homem morno. Mas também não quer um homem frio, insensível.
Se os homens tentam sinceramente se libertarem de uma masculinidade tóxica, ser definido enquanto homem não por outro homem, mas por uma mulher, não parece ser nada confortável também. Sociedades em transição podem ser muito contraditórias, como lembrava o psicanalista Sérvulo Figueira em famoso artigo sobre o moderno e o arcaico na família brasileira. Há um delay entre os ideais do presente e os padrões do passado. Daí a confusão!
Por isso, as contrarreações são esperadas, como o curso Machistas em Recuperação, criado por um dos personagens incomodado com as ideias de desconstrução.
Encontrar um ponto de equilíbrio entre os extremos não é fácil. E a reação pode ser radical. E os desencontros idem. Seja como for, apesar dos desconfortos e dos desencontros, homens e mulheres hoje têm a possibilidade, negada durante séculos, a repensarem seu estar no mundo e na relação entre si. Que época maravilhosa!
Texto: C. Sutter
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