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Dica de filme: Casa Gucci


Com cenas longas, talvez para dar tempo de o espectador sentir as mudanças nos sentimentos dos personagens, o filme de Ridley Scott, Casa Gucci consegue transmitir exatamente o tipo de mal-estar que se acumula quando conflitos pessoais e de poder convergem.


No que tange a dimensão material da existência humana, existem duas tragédias possíveis: não ter dinheiro suficiente para sobreviver e ter dinheiro em excesso. Em ambas as situações, vive- se em um universo distorcido. Famílias ricas, sobretudo as ditas empresárias, têm que lidar com os dilemas desta distorção, capaz de corroer as relações e o sentido da vida.


Pode-se adivinhar, na história contada pelo filme, a trajetória dessa família e dessa marca famosa do mundo da moda, nascida em torno do segredo de um avô que carregava as malas de couro dos aristocratas em um hotel londrino, e alçada às esferas milionárias até ser capaz de pagar qualquer preço pelo luxo de ter várias obras de arte pela casa. Para sustentar no imaginário este status foi preciso inventar uma narrativa mítica em torno de antepassados nobres. Para sustentar o excesso de tudo foi preciso sonegar o fisco. Terreno fértil para a traição.


A personagem de Patrizia Reggiani, saída da classe média sem refinamento (e, por isso mesmo, desprezível), sedutora e não menos ambiciosa que os demais, é apenas o elemento que desequilibra a balança e acelera a queda de todos no abismo. Tão forte parece ser essa teia tecida com os fios do luxo e do poder que o herdeiro do império, Maurizio Gucci, até tenta se rebelar contra as projeções da família e optar por uma outra vida, mais “simples”, mas acaba retornando, com a morte do pai, e assumindo seu papel como um script que nunca o abandou de verdade. Ele não tinha só o nome dos Gucci, como pensava. Ele era igual a eles.


Texto: C. Sutter

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